quarta-feira, novembro 24, 2004

A CURA

Neste ano, tenho tido súbitos ataques de flashbacks. Cada vez mais, sua freqüencia e duração aumentam. Em qualquer hora, qualquer lugar, acontece. Não consigo evitar, sequer desejo. Para quê? Quando a realidade presente se mostra decepcionante, entristecedora, sem razão, doses homepáticas ajudam a aliviar a dor de não saber direito por que você levanta da cama todo dia para o mesmo dia. Pode soar exagerado, mas, por traduzir meu sentimento em relação ao mundo ou a mim mesmo, prefiro correr o risco de ser taxado de melodramático. Qual depressivo crônico não é? Ainda que com motivos... Eu me estou vendo, de volta ao Leme, onde morei por 7 anos. Minha adolescência toda passei lá. Cresci, aprendi, conheci a tristeza e a anestesia naquele apartamento apertado. Fodi minha coluna de tanto dormir no sofá da sala, enquanto meus pais monopolizam o único quarto não ocupado por caixas de mudança. Via TV pela madrugada toda, olhava através da janela para o prédio ao lado, na esperança de que alguém surgisse e algo, alguma coisa, me ensinasse o que era viver. Até apareceu um dia, mas era alguém tão ou mais problemático do que eu. Nunca mais a vi. O ar- condicionado ficava na sala, gelando de maneira gostosa o ambiente. Via seriados de todos os tipos na TV a cabo, noites e noites a dentro. Enquanto meus amigos descobriam os exageros, experimentando prazeres, eu assistia "The Fresh Prince of Bel- Air".
Agora, eu estou na sala principal. Está mudada, menor e num ângulo diferente. Apesar das aparências, é a sala, é o que sinto. As luzes acesas, está escuro lá fora, estou vendo TV. Eu devo estar com 15 ou 16 anos. Vejo TV, solitário, imaginando o que os outros estão fazendo e por que não posso participar. Sonho com os prazeres de moleques da minha idade que não tenho coragem de procurar. Eu olho para esse menino virginal e não consigo acreditar que ele existiu. Sento ao lado dele, tento falar com ele, mas está tão mergulhado em seu mundo imaginário de abusos que não me escuta. Quero dizer a ele que nada vai mudar. Ele vai conhecer a vida, tudo num período muito curto e intenso de tempo. Ele vai ser feliz um dia. E, quando achar que nada pode dar errado, perderá tudo. O menino de 15 anos, ao contrário do que imaginava, não sonha só com boates e ser amigo do pessoal "sinistro", os "playboys" que ele tanto inveja. Eu estou dentro do corpo do menino de 15 anos. Nós estamos num quarto aperto de um apartamentinho de luxo no Jardim Botânico. Vemos eu, num terceiro garoto. Ele tem seu próprio quarto, onde ele faz o que quer. Tem um baseado num cinzeiro perto do computador, embaixo da estante com uns poucos livros. Recentemente, ele começou a criar gosto pela leitura. Ele está deitado em sua cama pequena e confortável, com uma colcha leve e reconfortante com o corpo de uma bela mulher, linda e que o compreenderá. Ao lado da cama, há uma mesinha de metal, na qual em cima há uma garrafa de Bohemia gelada. Nós sentimos vontade de beber uma Bohemia. Mas, não podemos pegar a garrafa. Somos dois espíritos, unidos num mesmo ser espectral, em nossa visita. Como um xamã, anulamos o peso de nossos corpos, o meu real e o dele, imaginário, e tranportamo- nos num vôo a outro mundo, em busca de uma cura para mim. O menino de 15 anos não tinha cura, também a procura. Então, juntos, fomos a um nível de percepção completamente fora das realidades presente e passada. O terreno da ilusão em 3D: o quarto do Jardim Botânico e o terceiro garoto, como que inseridos num cenário de tela azul.
Nós obervamos de perto o jovem adolescente de classe média- alta, deitado, com uma cerveja a mão. Ele é outro solitário. Igualmente insatisfeito com sua situação. Igualmente deslocado. Nos separamos e nos tornamos dois espíritos, observando o pobre meino rico.
Fíco lá, com os dois. O cenário é melancólico, mas é melhor do que voltar. Não vou sair agora. Enquanto as mãos escrevem, o corpo se mantêm ocupado, a mente viaja. Como uma boa tragada. Finalmente, expiro a fumaça e o texto acaba. Ponto final e retorno.
Queria saber qual é o nome da música que toca na minha cabeça agora.
Espero que os garotos de 15 não descubram como eu o quão a vida pode ser cruel. Eu gosto deles.
Não posso evitar. Não há cura para esse mal.
Acabou.

sábado, novembro 20, 2004

COMO UMA ONDA

Segunda- feira, estréia a nova novela da seis, "Como uma onda". Foda- se, eu não assistir. Não vejo novela e não sinto a menor culpa nisso. A música- tema, aparentemente, é o título da novela; conhecida entre meus amigos como o "melô do surfista tarado". Piadinhas infames à parte, ao pensar nesse título, vi- o como uma boa definição para minha vida atual. Batendo na praia e voltando, para bater outra. Num ritmo vicioso, auto- destrutivo e sem saber o por que. Como tenho levado minha vida. Como uma onda. Hoje, fui na reinauguração do sebo Baratos da Ribeiro ( http://baratosdaribeiro.blogspot.com ). Reinauguração em termos, pois o sebo estava funcionando desde terça- feira, mas, enfim... Lá, reencontrei algumas caras conhecidas, outras novas, conversei, enchi a cara e paguei mico. estou com dor de cabeça até agora, por sinal. Mas a ressaca verdadeira foi ter percebido que eu não mudei tanto quanto imaginava. E isso é algo ruim. O garoto inseguro, puto por levar um fora da ex- namorada e das outras namoradas, c0onhecidas como oportunidade, reconhecimento e sucesso, ainda existia. Apesar de ter deixado de me importar tanto com a realização pessoal, abraçando a divulgação da nova cultura, de todos os novos artistas, das pessoas que têm coisas boas a dizer, mas não o espaço, ainda há um ressentimento. Meu jeito espalhafatoso me impede de ser levado a sério. Sou tratado como um figura folclórica. Conseqüentemente, a causa que resolvi defender fica abalada. Como levar a sério um bêbado escandoloso, que fica tirando vantagem o tempo inteiro? Como achar que o que ele está falando não seja um monte de besteira? E, ao invés, de combater essa imagem, eu a perpetuo. O sebo foi reformado, parece novo para os outros, mas não pareceu para mim. O sebo tornou- se uma metáfora perfeita de mim mesmo. Por mais que tenha mudado de atitude, que esteja mais sóbrio, mais produtivo, que tenha uma nova garota, por dentro, continuo a mesma pessoa que tanto que desejo afastar. Enquanto ela existir, meu novo eu será apenas uma fachada. O chão ladrilhado pode passar a impressão de que a loja aumentou, quando ela continua do mesmo tamanho, quando nada, efetivamente mudou. A prova maior é que durante a semana que passou, apesar de que adiantar diversos trabalhos, deixe- me não fazer nada. Simplesmente, não me esforcei como, teoricamente, o recente eu deveria ( prefiro "recente", porque "novo" seria radical demais, logo, mentiroso. ). Por mais que quisesse, minha mente não deu ouvidos e meu corpo concordou alegremente. Eu não fiz nada e agora estou fodido. Tudo bem. Eu mereço. Afinal, assim como o "antigo" eu, acho que mereço me ferrar. Não cumpri com minhas obrigações, vou correr para salvar minha pele. Sei que poderia ter feito melhor. Poderia ter passado com glórias. Sou capaz. Entretanto, a auto- destruição é parte intríseca de mim. Não me abandonará. Eu não deixarei.
Honestamente, não sei por que, mas, como disse anteriormente, acredito que todos somos auto- destrutivos, cada um a sua maneira, como o comercial da lanchonete de "Super size me". Mas eles não vêem isso. Eu sim. Logo não me sinto culpado. A minha agonia é saber que poderia fazer outra coisa além de deitar e esperar o apocalipse surgir, em todo seu esplendor.
Ao som melancólico dessa música, voz calma e ninante de Lulu Santos, olho as ondas batendo na areia, bem à minha frente, final de tarde e me pergunto, mentalmente:"E se?" E se?

MENSAGEM DE UTILIDADE PÚBLICA 5

O post "Minha geração" foi concluído. Aconselho a todos que leram o início que releia e deixem sua opinião num comentário. Mesmo quem já deu seu comentário. Valeu.

sexta-feira, novembro 19, 2004

MINHA GERAÇÃO

Eu nasci... há 21 anos atrás. Eu nasci há 21 anos atrás, em 1983. Sou o último produto de longo e breve século, segundo historiadores. Apesar de ter uma aparência externa jovem, eu e meus contemporâneos somos museus ambulantes. Durante nossos primeiros meses de vida, o país estava em turbulência, na passagem da Ditadura para a Democracia. Nascemos em meio a esse limbo. Crescemos enquanto o mundo se transformava a nosso redor. Não essas transformações bestas, locais e que efeito de médio prazo que acontecem todo santo dia. Falo de acontecimentos históricos, simultâneos, que mudaram a vida de tudo e todos para sempre. Sempre: o fim da Ditadura, a redemocratização do país, o alastramento e combate a aids, 11 de setembro, a queda do muro de Berlim e o surgimento dos computadores caseiros e a internet. Esses foram os principais em termos gerais. Também há diversos outros eventos revolucionários que ocorreram nesses conturbados 21 anos. "Os Simpsons", para mim e muitos outros, foi um acontecimento revolucionário na cultura pop. Nirvana e Legião Urbana, músicas de acampamento, são do final dos 80 e início dos 90. Nós testemunhamos o mundo e os costumes mudaram enquanto começávamos nossa vida escolar. Para o vestibular, tivemos de estudar fatos que acompanhamos na infância. Certo que toda geração tem um fato de grande importância, mas nós tivemos vários! Quando envelhecermos, talvez nos tornemos cópias do Vovô Simpson, contando histórias de uma época tão distante que parece fora da realidade. Nós seremos ficcção. Um sentimento, aliás, que acompanha essa geração. Apesar de sermos de carne e ossso, nos sentimos como ficção. Nossa existência é fantástica e insignificativa demais para ser verdadeira. Como disse, tudo aconteceu quase que ao mesmo tempo nos últimos anos. O tempo passa frenético. oferecendo oportunidades e arrancando- as de nós numa fração de segundos. Temos muitas opções, o que nos obriga a sentir mal por não escolher ou escolher mal. Precisamos tomar uma posição em relação a tudo o que está ocorrendo no mundo, seja optar pela ignorância ou uma atitude mais drástica. Drogas não funcionam mais, o sentimento de culpa nos perseguirá agora sempre, independente de querermos fugir do mal- estar ou não. O mal- estar de de estar vivo num mundo abertlo e incompreensível vai acompanhar essa geração sempre. O modo utilizado para isso é nossa posição histórica. Enquanto outras gerações poderiam recorrer a Freud, ou outra explicação barata, para justificar sua depressão, acredito que o problema que aflige a geração de 83 é mais grave. No caso, o que nos atinge no peito é nosso posicionamento histórico. Em "O mal- estar da civilização", Freud tenta demonstrar o que seria a depressão e suas conseqüências. Fazendo um retrato detalhado, mas, ao mesmo tempo, atualmente vago, relata que a insatisfação humana viria da necessida não- preenchida de ser pleno. Caso tomemos essa idéia básica como verdadeira, veremos que nossa geração tem muita razão em estar desorientada. Como podemos ser plenos, em meio a uma chuva de acontecimentos e oportunidades? O filósofo bigodudo que deveria ter dificuldade em tomar sopa disse que Deus está morto. Seja morto, ausente ou fazendo vista grossa, o fato é que, em meio ao caos que tomou conta do mundo e das relações pessoais, surgem oportunidades para se destacar de diversas maneiras. Como não podemos aproveitar todas como gostaríamos, a agonia antecipada surge. Não ocorre a espera para reflexão e posterior depressão. Isso já ocorre antes, durante e após a escolha. Talvez isso venha devido a o fato de que nascemos em meio a um vazio histótico. Desde o nascimento, viemos programados para olhar para as opções e não saber qual adotar confiantemente. Apesar de nossas boas intenções, simplesmente não sabemos como se escolhemos certo ou não. E levamos nossas escolhas muito a sério, pois, devido a termos vivido em meio a acontecimentos históricos significativos, temos a idéia de que nossas escolhas não só refletirão em nós como em todos os outros. Estamos perdidos numa floresta sem direções, somos ondas batendo na areia, sem saber por que ou tentando evitar. Metáforas a parte, toda essa intensidade parece demais para ser verdadeira. E essa sensação de que nada é real de fato nos permite entrar no conformismo, dando- nos uma resposta para a história que cobra um posicionamento de nossa parte. "Isso não pode ser real. Logo, porque devo devo me importar?" Ou assustar as pessoas de tal forma que elas se conformem ou não consigam enxergar propriamente qual atitude tomar. "Se eu mudar de opinião, de repente, amanhã eu possa certo ou errado. Para que arriscar?" Toda essa gama de oportunidades nos inibe e impede a ousadia. A idéia de que a história nos julgará amedronta a todos. Especialmente uma geração que viveu na história enquanto acontecia. Nesse sentido, estamos condenados. Mas, ao mesmo tempo, nos dá esperança. Nascer num limbo histórico deixa nossas opções abertas. Podemos não ter certeza de que estamos fazendo a coisa certa, mas podemos optar entre várias possibilidades. O fato da realidade estar mais interpretativa do que nunca nos últimos anos é o sinal. Apesar da ausência de uma base, é mais fácil conquistar algo na confusão do que numa mentalidade estabelecida e inquestionável. Ao mesmo tempo que a geração de 83 está condenada a nunca saber quais serão os efeitos de seus passos ( e não conseguir pensar a longo prazo ), isso pode ser sua redenção. Sua ignorância em relação aos fatos, juntamente com sua agonia por estar num limbo histórico e moral, pode causar mudanças revolucionárias, como as que se acostumaram a ver enquanto cresciam. Acredito que o grande dilema de minha geração é esse: não saber se estão lutando pela salvação ou pela perdição.

terça-feira, novembro 16, 2004

A SINFONIA AGRIDOCE, PARTE 1

Esse é um trecho de um livro que estou escrevendo. Tinha um título de trabalho, mas mudei. Estou reescrevendo- o aqui, porque serve de introdução para o texto de agora.

"A história é breve, como todas. Não há muito o que relatar, mas muito o que dizer. Como o monstro de Alien, algo tenta violentamente sair de minha caixa toráxica e, impotente, nada posso fazer, a não ser gritar de dor. Dor. Conheço- a há tanto tempo que sinto como se fôssemos irmãos. Ela vive comigo, me conforta, me deixa ativo enquanto minha prometido hora está chegando. É uma dor sem explicação, que ataca, se espalhando em você feito melado. Chamam de "dor da alma", mas não gosto desse nome. É vulgar. Não posso ser ofendê- la. Além de injusto, ela reage mal. Uma vez, a ignorei. No período mais feliz de minha existência, esqueci de meus problemas, da solidão, da raiva e do medo e aproveitei. Fechei os olhos e mergulhei num poço sem fundo. Ao final, bati de cabeça numa pedra e fiquei em pedaços. Agora, estou terminando de recolher meus cacos. Quando estiver, aparentemente, completo, ressurgirei e mostrarei para todos, mas principalmente, para você, minha glória. Por mais esteja sangrando por dentro, numa hemorragia interna, cujas feridas cutuco, eu aparecerei como uma Nossa Senhora de Fátima, brilhando, eterno, inquestionável. Você me feriu. Você vai pagar. Nem que seja a última coisa que eu faça nessa porra de vida que só fez rir da minha cara com ironias cruéis, eu juro! Você vai pagar, meu amor..."

Minha amiga é também minha amante. Temos muito em comum: somos críticos, teimosos, inteligentes, atraentes, bons de cama, ambiciosos profissionalmente, bem- sucedidos e fracassados em nossas vidas sentimentais. Abdicamos do amor e abraçamos a amizade, o sentimento puro e seguro. Não há uma total entrega, logo não há amor. Há o sexo, suprindo as necessidades da carne e do carinho. Como atores, encenamos amor. Nossa amizade sincera permite que possamos fazer isso sem riscos ou falsidade. Quando transamos e nos abraçamos, é verdadeiro, é um descanso, é um porto seguro, é uma pausa de toda a realidade em que precisamos ser fortes por todos. Nosso abraço é uma pequena dose de redenção. Nossos pecados são perdoados e as dores esquecidas. É intenso e único. Mas, não é amor. Apesar de tudo, não há, nem pode haver uma entrega completa. Mesmo desarmados perante o outro, ainda fazemos pose. Recentemente, eu quebrei uma dessas regras.
Após uma má- sucedida tentativa de sexo, minha cabeça começou a doer do lado esquerdo. Logo, veio a tonteira e, meu Deus, o desespero também. Ela prontamente me acudiu e cuidou do mim. Atordoado, desabafei. Sussurando, em seus braços, falei todas as minhas dores, todas as verdades constragedoras, me mostrei frágil e cheio de cicatrizes e feridas para ela. Isso nunca deveria ter acontecido. Jamais. Isso é um passo além da amizade. Não estou exagerando. Ela disse que deveria encontrar uma namorada. Tive vontade de dizer: "Eu te amo.", mas não podia. Ela me abandonaria e também porque não seria verdade. Não a amo dessa forma. Só não consigo amar. É incrível, meses se passaram, raramente penso na minha ex, mas a corte ainda sangra. Minha amiga também passou pelo mesma situação que eu. Recentemente, ela decidiu se afastar de um amigo, porque descobriu que o amava. Foi doloroso. Eu teria feito o mesmo sem pestanejar. Amor não existe. O que há são fatos e realizações. Quando alguém morre, é reconhecido pelo o que fez na vida. Quem se importa com quem amou? Amar é fácil. Amar com sinceridade e ser igualmente correspondido já é outra história. É conto- de- fadas. O mundo em que vivo é real é cruel. Ele não pára um instante. Se, em meio a essa bagunça em que nossas vidas se tornaram, encontramos alguém especial de verdade, pode- se considerar um felizardo. Eu encontrei. Me perdoe, minha amiga. Vamos, outra vez, botar uma pedra em cima do que não podemos enfrentar e seguir em frente. Como sempre.

domingo, novembro 14, 2004

RESPOSTA A JULIA

Hoje, passei no blog da amiga Julia, "MacBeth no país das maravilhas" ( o link pode ser encontrado no post "Mensagem de utilidade pública 3" ). Li um brincadeira deliciosa chamada "Epifania". Leve, solto, despretensioso, muito divertido. Contagiado por esse espírito descontraído, resolvi responder à Julia com uma criação própria. Aqui vai:

ESQUIZOFRENIA

Eu.
você.
Você?
EU!!!

***

Essa deveria estar num "Mensagem de utilidade pública", mas decidi aproveitar o espaço. Saiu hoje, no jornal "O Globo", caderno "Mundo", uma reportagem sobre o Haiti escrita por Mônica Gugliano ( nome engraçado ). Vale a pena ler, é jornalismo literário da melhor qualidade.

"PELECARNESANGUEOSSOS" E O CONSTRAGIMENTO DE NATHÁLIA

Ontem, apesar de todo o material acumulado da faculdade me gritar o contrário, resolvi ir ao teatro. A peça era "Pelecarnesangueossos" e termina hoje. Isso aumenta minhas certezas de que só assisto peça em fim de temporada, mas tudo bem. Fui acompanhado por minha amiga Nathália. Ela, como eu, é uma dramaturga iniciante que leva porrada de seus textos constatemente. Fomos no Teatro Café Pequeno, a versão "Mini- me" do Canecão ( exatamente como o Canecão, mas com 1/8 do tamanho. ). Após essa breve apresentação, vamos ao que interessa, a crítica. E, leitores com apetite de destruição e/ ou leitores de Barbara Heliodora, acho que vão ficar satisfeitos. Vou começar com o que mais marcou: o cara que faz Gabriel é PÉSSIMO!!!! Isso é especialmente ruim, pois o personagem dele é grande vilão, o causador de toda a tragédia da peça. Mesmo levando em conta que o papel não teve o espaço necessário para se desenvolver, não há nada que redima o ator. Ele está tão ruim no papel, que, ao invés de raiva do ator, senti pena dele. Essa foi a única coisa que consegui sentir dele. O cara não sabia se movimentar em cena, não tinha qualquer linguagem corporal e nem gritar direito conseguia. Dizer que ele estava no piloto automático seria um elogio. O cara, no máximo, estourando, decorou as falas e mandou o "foda- se!"Formando com honras da Escola de Teatro Cigano Igor. E, antes que digam que estou sendo cruel com o sujeito, respondo que ele foi muito cruel, não só comigo, como com toda a platéia que pagou para assistí- lo. A única parte boa dessa situação foi ver o constragimento da Nathália, que é amiga do moleque. Assim que terminou a peça, ela disse: "Vamos embora agora!", com medo de encontrar a criatura e ter de dar sua opinião. Ver a cara dela de "Puta- que- pariu" foi muito engraçado. Acho que não sou um cara tão legal. O resto do elenco estava bem, especialmente as mulheres. A menina que faz a vítima era linda e atuava muito bem. Segundo Nathália, ajudou o fato de que ela passa quase toda a peça deitada e sem ação, mas, nos poucos momentos em que mostra serviço, o faz de forma muito competente. A mãe tem atuação boa. Em terceiro lugar, fica o médico, interpretado satisfatoriamente.
O grande problema no texto é o desenvolvimento da trama e de seus personagens. Na ânsia de fazer uma denúncia, o autor simplesmente jogou cenas de impacto, sem maior preocupação em buscar o que estaria por debaixo de tudo, que elementos teriam sido os verdadeiros causadores da tragédia. Se , por um lado, deixa a platéia tensa durante todo o espetáculo, o que acho ser um dos objetivos do texto, por outro tudo acaba soando gratuito. Um monte de boas idéias, jogadas ao esmo. É como um quebra- cabeças, em que as peças insignificantes faltam, impedindo que o quadro se complete. Alvim até tenta trazer momentos de reflexão, quando os personagens falam sobre escolhas, mas, com exceção da cena inicial, tudo é muito rápido e não funciona. Isso tem efeitos, conseqüentemente, na construção dos peronagens. Fica evidente nos personagens do médico e sua esposa. A esposa, praticamente, não tem função nenhuma. Para mim, se ela não estivesse lá, não teria feito muito diferença. O médico é o personagem mais preocupante. Como Nathália disse, ele é o Hamlet da história: "Ser ou não ser?", "Honrar o juramento ou cuidar de meus interesses?". O médico, que deveria ser o personagem principal, não tem o tempo necessário para se desenvolver e acaba tendo o mesmo tempo ( insatisfatório ) que os outros, que deveriam ser os coadjuvantes. Ele carrega o dilema, ele que tomará a decisão de vida ou morte. A platéia, ao invés de entrar no drama dele, apenas visualiza o conflito. O desempenho do ator, que empresta alguma simpatia ao personagem, ajuda na troca limitada que ocorre. Bem, agora que esculhambei, que tal os pontos positivos? Afinal, eu gostei da peça. Logo, deve ter algo de bom. O texto é bom, por exemplo. Antes que me acusem de ser contraditório, me adianto: o texto da peça é bom, mesmo com os defeitos graves que apontei acima. O que quis dizer com a falta de desenvolvimento notável é que o tema tinha um potencial muito forte. Poderia ter sido uma peça do caralho, foda, algo para escandalizar geral. Do jeito que ficou, é apenas boa. A iluminação é muito boa. As luzes se alternam harminiosamente. Há um momento lindo, em que as duas atrizes ficam de perfil, em frente a uma luz vermelha. O efeito ficou foda. Outra grande sacada é no final, quando a família janta com o cadáver da vítima na mesa. Foi outra grande sacada. Para terminar, acho que posso dizer que esse é o melhor texto de Roberto Alvim. O bom é que ele é superior a sua peça anterior, cheia de intenções, mas que não acertava nenhum alvo. Se continuar progredindo, logo Alvim vai escrever algo realmente foda, que funcione tanto dentro quanto fora do terreno das idéias do autor.

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O que é o amor puro e o amor egoísta?

sexta-feira, novembro 12, 2004

MENSAGEM DE UTILIDADE PÚBLICA 4

Para que certas pessoas parem de dizer que todos os links que passo são apenas de amigos meus e que faço média online, aqui vai algo que descobri ontem e cujos realizadores nunca vi na minha vida. É a página do Homem- Chavão ( www.homemchavao.com ). Como existe há certo tempo, talvez algum dos 3 freqüentadores desse blog já tenham visto. Caso não, vale a pena. Além de engraçada, fornece muitas informações úteis para o dia- a- dia. Seja para aqueles que desejam evitar os lugares comuns ou que estão em busca de novos ditos populares para tornar seu papo mais rico ou constrangedor. Tenho certeza que todos já utilizaram uma expressão surrada e nem perceberam. Mas, no espírito do "Homem- Chavão", cito uma frase escrita por uma grande sábio no MSN Messenger:
"Tenham medo do buraco na camada de ozônio, mas não do estereótipo!" Daniel R. Ribas
Isso dito, vamos viver em paz com nós mesmos. Afinal, como seres humanos, podemos ser tudo, menos originais. Então, relaxem e curtam...

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Reclama, Moscão! Você pediu, agora não vou te deixar em paz! Quero ler sua nova reclamação! Estou esperando!

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Aproveitando que estou dando esporro, peço, cordialmente, para que meus 3 freqüentadores deixem comentários. Adoro o fato de muitos estarem curtindo o blog. Compensa o trabalho e acaricia meu ego, quase tão insaciável quanto meu apetite sexual. Por isso, acho que posso pedir para que as pessoas expressem, de forma escrita, seu contentamento com os serviços prestados. Afinal, quanto mais comentários, talvez mais pessoas passem a freqüentar a página e poderão ter suas vidas mudadas por meus escritos. Assim, ajudem o Daniel Ribas a ganhar o Prêmio Ibest e poder tirar ainda mais onda. Obrigado.

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Para aqueles que não acreditam no poder maléfico e ilimitado dos chavões: a última nota é um plágio descarado do pedido que Juca Chaves, o seresteiro do Brasil, costuma fazer nos comerciais de seus shows ( "Assistam e ajudem o Juquinha a comer caviar. " ). Bizarro. Ninguém está a salvo dos estereótipos. E agora, quem poderá nos defender? ... Droga, outro.

sábado, novembro 06, 2004

A SETE PALMOS, O REI DO PEDAÇO

Esse texto pode ser definido como "Homer Simpson votou em Bush, parte 2". Com "A sete palmos, o rei do pedaço", pretendo efetuar o mesmo que as seqüências de filme costumam fazer com o original: explicar todas as perguntas que permaneceram. No caso, falava sobre como desenhos como "Os Simpsons" e "South Park", através do exagero, mostravam o perfil da maioria dos eleitores que presentearam George W. Bush com mais quatro anos na Casa Branca. Assumindo de vez minhas pretensões antropológicas, podemos perceber que essa eleição já tinha dono se analisarmos que tipo de seriados os americanos assistem. Acho que posso dizer que séries de TV nos EUA têm a mesma importãncia que nossas novelas aqui. Sâo uma das principais atrações de suas emissoras. Têm um público cativo, que determina a sobrevivência do programa. Se tiver excelente aceitação, ou se for exibido no horário nobre, o espaço para anunciar um produto pode custar milhares de dólares. Foi o que ocorreu nos últimos capítulos de "Friends", por exemplo. Pode transformar atores em estrelas e milionários. Também são exportadas para diversos países. São um produto tão lucrativo que tanto as redes de TV aberto quanto as por assinatura têm seriados. Os mais populares acabam sendo, inclusive, associados à rede que os exibe. Ou seja, não é tão diferente das novelas, não é? Séries de TV aberta geralmente seguem uma fórmula testada e aprovada, sejam dramas ou comédias. Apesar de nos últimos tempos terem apresentado inovações, costumam não ousar, por temer que algo mais agressivo afaste o público. Seu único propósito é distrar sua audiência, correndo feito o diabo da cruz de qualquer reflexão ou algo que desagrade. Séries de redes de TV à cabo, apesar de ter a mesma preocupação mercadológica, não seguem essa rígida cartilha. Têm a liberdade para serem artisticamente mais ousadas. Os temas são mais adultos, têm tratamento de cinema e ousam em sexo, violência e linguagem. São muito liberais. Isso deve justamente ao fato de que o público que paga TV por assinatura, em sua maioria, pertencer à classes financeiramente privilegiadas. A elite. Ou seja, temos, essencialmente, dois tipos de seriados nos EUA, que podem ser ligados a duas classes socias. Nessas eleições, tínhamos dois candidatos que representavam, cada um, os dois tipos básicos de americanos: os pobres e conservadores que defenderam Bush e os ricos e/ ou esclarecidos liberais que apoiaram Kerry. A escolha dos verbos "defender" e "apoiar" não foi à toa. Mas vamos dar uma olhada nos programas assistidos pela população americana. No lado das classe trabalhadora, temos dramas leves, enlatados policiais e sitcoms. Vamos pegar as sitcoms, especificamente o "According to Jim" e "O rei do pedaço" ( é um desenho, mas serve para o ponto que defendo. ) . Tanto a seriado com atores de carne e osso quanto o de tinta fala sobre famílias de classe popular e sua rotina atrapalhada. Jim, o americano médio, é um sujeito cabeça fechada, conservador e, apesar de constantemente fazer merda, sempre dá um jeito de dar a volta por cima. Entre alguns de seus inimigos, estão vizinhos chatos e liberais que se acham melhor do que ele. Hank, protagonista animado, é a mesma coisa. São programas populares, que promovem a anti- catarse que Adorno tanto chiava. Ao invés de satirizar a ignorância do povo americanos, passa a mão na cabeça deles. Justifica seus erros, torna- os dóceis e faz questão de formentar estereótipos, contribuindo para um apartheid social mental. "According to Jim" e "O rei do pedaço" têm com protagonistas não arquétipos, mas o chefe de família classe média- baixa. E sua mensagem é: você está certo, sua mentalidade fechada é correta e liberais são pagãos que merecem o desprezo. O público que aumentou a temporada de Bush como presidente. Agora, passemos a Kerry. Seus votos vieram, em maior parte, de americanos jovens, grupos excluídos e das elites, principalmente a intelectual. Que tipo de programa eles assistem ( ou assumem que assistem )? Séries artísticas, críticas, que são feitas para balançar o público de seu marasmo. Bons exemplos são duas séries da HBO muito populares: "Sex and the city" e "A sete palmos ( six feet under )". Enquanto a primeira inivou ao colocar mulheres de 30 anos falando abertamente sobre sexo e relacionamentos, a segunda trata de temas cabeludos como depressão, morte, homossexualismo, culpa e drogas, com enfoque realista. Seus personagens são pessoas comuns, mas incrivelmente atormentadas. O toque peculiar fica por conta da ação se passar numa funerária, o que é o pretexto para mostrar ao espectador cenas como a preparação de um cadáver. Para ver como as coisas são engraçadas, a grande polêmica que gira ao redor da série não são as cenas grotescas, mas os temas espinhosos. O puritanismo ataca até os intelectuais, que se chocam com a violência nos relacionamentos e não a gráfica. Mas isso foi um comentário à parte. O que quero dizer é o seguinte: assim como os intelectuais liberais consideram "According to Jim", o seriado do homem de classe média- baixa, transmitido por rede aberta, como diversão barata, a população pobre e conservadora americana, que não tem TV a cabo e admite violência, mas não sexo, jamais veria "A sete palmos". O puritanismo americano pode ser sentido em todos os lugares, mas em alguns mais do que outros. Bush falou para aqueles que abraçam o puritanismo sem medo de assumir. Aqueles que assistem enlatados distrativos e que não ousam, que reafirmam que sua mentalidade fechada e ligada à tradições antigas é o correto. Kerry falou para os críticos, os que refletem sobre as ações de seu país e de seu presidente e que desejam mudanças. Aqueles que assistem programas de temática ousada e de apelo segmentado. Por isso, George W. Bush é o rei do pedaço e a candidatura de John Kerry está a sete palmos.

HOMER SIMPSON VOTOU EM BUSH

Desde que John Kerry admitiu sua derrota, muitos artigos foram escritos sobre como serão a reeleição de Bush. E aqui vai mais um! Muitas pessoas de boa- fé ficaram chocadas com a vitória do atual presidente dos EUA. A pergunta na cabeça de todas elas era: "Mas como? O cara é um babaca, um mentiroso, todo mundo sabe disso, até meu cachorro sabe e ele ainda ganha mais quatro anos? Que porra é essa?" ( Fazendo propaganda, como sempre, a Renata Ventura escreveu um ótimo texto que demonstra esse sentimento, na página Hipucomdríacos - www.hipucomdriacos.com.br ) Eu, por outro lado, não fiquei chocado, nem surpreso. Bush é um mau governante, mas temos vários chefes de Estado atuais condenáveis. Sílvio Berlusconi, o comandante da Itália, dono da maior rede de mídia do país e ultra- direitista é uma figura tão ou mais perigosa e desprezível que seu colega americano. A única diferença é que ele não tão falado por essa bandas( o que não deixa ser uma ironia por se tratar de um sujeito que usou e abusou dos meios que controlava para se eleger ). Ah, Berlusconi também apoiou a guerra ao Iraque. Ou seja, mesmo que Kerry ganhasse, ainda teríamos uma figura como essa. E não me venham com esse papo de "Itália não é EUA", porque, enquanto as populações de qualquer paiseco elegerem esses vilões de 007 para presidência, o mundo nunca estará seguro. A democracia jamais será plena, enquanto permitirmos que grupos manipulem em nome de seus interesses comercias, especialmente quando se trata de político. Por esses motivos, não fiquei chocado.
Não fiquei surpreso, porque não achei que a reeleição de Bush contradizesse o pensamento do povo americano. Ao contrário das eleições anteriores, não acho que houve má- fé agora. Os americanos foram em massa votar e eles, principalmente eles, optaram por renovar o mandato de Bush. Enquanto isso, o resto do mundo agia como um cara que levou um fora da namorada: muito choro e muita suposição, nenhuma análise mais fria dos acontecimentos. Como falei, já esperava por isso, o que me deu tempo de pensar a respeito. Então, o que soou mais lógico foi tentar encontrar o problema pela raiz. A pergunta a ser feita não é o que o povo americano quer, mas quem é o povo americano? Até o momento, não achei uma resposta definitiva. Mas, esbarrei em algo interessante. Outro dia, vi um episódio antiqüíssimo dos Simpsons. Nele, Homer é acusado erroneamente de abusar sexualmente de uma estudante e tem sua vida virada de cabeça para a baixo com a cobertura incessante da mídia. Ao final do episódio, com a inocência provada, Homer abraça e beija a TV, dizendo: "Não vamos brigar mais." Não sei se é claro para todos, mas Homer é a caricatura máxima do típico americano de classe média- baixa. Não tem muita instrução, trabalha num emprego horrível, bebe sem parar e é um marido relapso e um pai ausente. É uma figura triste, que só encontra redenção no amor genuíno que sente por sua família. Sendo mais frio, o amor de Homer é fruto do fato dos Simpsons ser um desenho feito para a família, mesmo tratando de assuntos adultos e passar num canal aberto. Já "South Park", outro desenho com o mesmo teor crítico, mas para o público adulto e de um canal por assinatura, tudo é muito mais ácido e nonsense. Logo, não há salvação. Todos, homens e crianças, são ignorantes e desagradáveis. A diferença entre as faixas etárias é que, enquanto os mais velhos são estúpidos, as crianças são interesseiros e manipuladoras. Assim como a Springfield natal da família amarela, South Park é uma cidade cujos habitantes simbolizariam os moradores menos privilegiados e que compõem a maioria dos EUA. Devido a ignorância que atravessa geraões, são pessoas ligadas a tradições e de mentalidade fechada. Os eleitores de Bush. Afinal, como explicar ele ter ganhado em Ohio, um dos estados mais afetados pelo desemprego? Bush passa a imagem que o americano médio idolatra: um chefe de família, com princípios conservadores sólidos e um líder que não volta atrás. Tudo pelo bem dos EUA. Ao contrário de toda a pompa liberal e intelectual de um Kerry da vida, Bush passa uma imagem de simplicidade, mesmo vindo de uma das mais poderosas famílias dos EUA. Poderia ser um colega de bar ou um vizinho amigo que organiza um churrasco. Ele fala para o povo americanos, fala de coisas que eles entendem e aprovam de uma maneira que eles entendem e aprovam. O que Kerry tentou conquistar com Leonardo DiCaprio e cia e o apoio dos principais meios de mídia americanos foi algo que, apenas no final, deixou mostrar: o lado humano. Como confiar que você resolverá o problema do desemprego, algo importante para essas pessoas, se você não demonstra ter princípios sólidos? Qual o sentido em tirar as tropas do Iraque, se insiste em não romancear a guerra, como fazem os pastores com o Novo Testamento? Resumidamente, como esperar a simpatia do povo americano, se você se concentra no cérebro, e não no coração? Sua fala liberal pode seduzir as elites intelectuais ou os grupos excluídos, mas o pessoal de Springfield não conhece, não quer conhecer e tem raiva desse povo. Kerry percebeu esse erro no final da campanha, quando, talvez fosse tarde demais para mudar os eventos seguintes.

sexta-feira, novembro 05, 2004

MENSAGEM DE UTILIDADE PÚBLICA 3

Para as pobres almas que acessam essa página de pensamentos, exercícios e exibicionismos, dois endereços que valem a pena a visita. Não por coincidência, são de duas pessoas queridas por mim. O primeiro é de meu grande amigo Vinícius Faustini. Ele escreve o blogue "Repertório" ( http://repertorio.blogspot.com ). Nele, o Faustini escreve artigos sobre cultura e pensamentos. Vale pelas opiniões e pela forma de como ele escreve. O cara é foda, meu ídolo. Não pego porque não faz meu tipo. O segundo é de minha colega Julia Nemirovsky, que ataca com "Macbeth no país das maravilhas" ( http://macbethnopaisdasmaravilhas.blogspot.com ). Julia tem uma escrita pessoal, em que flerta com a poesia e o experimental. Não sei se todos vão gostar, mas acho uma experiência interessante. O blogue também publica poemas de autores consagrados e tem links muito legais, como o de Cézanne. Para finalizar, meus amigos e aprendizes Omar Fanfarrão e Rodrigo Moscão- Morta publicaram uma entrevista com Michel Melamed ( o cara do "Regurgitofagia" ) no Portal Literal ( www.portalliteral.com.br ). Leiam e espalhem a palavra!

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Obs.: Moscão reclamou que uso meu blogue para fazer propaganda de meus amigos e que o tratamento é recíproco. Agora, que ver ele reclamar. Desafio! Vamos, desgraçado! Chia, vai! Quero ver!

MADRUGADA

Sentado em frente ao computador, às 3: 00 da manhã, sem perspetivas, muitos receios e nada a fazer. Sinto- me sedado. Sei que poderia estar fazendo algo útil, adiantando trabalho, tentando encontrar soluções para os problemas que criei para mim mesmo, mas não faço. A noite está escura. Do lado de fora da janela, vejo umas poucas luzes à distância e imagino como deve estar a Avenida Atlântica a essa hora? Como estarão as garotas? Nas entrevistas que fiz com elas, algumas reclamaram que eram infelizes. Não gostavam do faziam, mas não sabiam outra coisa que desse um retorno tão rápido. Não ousam mudanças, pois temem perderem o pouco de bens materiais que possuem. São mais exemplos de almas mortas, que gritam por dentro e por fora, aparentam calma, "O Silêncio que precede o Esporro". Eu também quero gritar. Queria ser um rebelde, mas sou apenas mais um revoltado. Queria ser alguém, ser especial para alguém. Não estou dizendo que não sou, mas eu não sinto isso. Sou um ingrato e não fico me culpando pelo meu egoísmo. Entretanto, o vazio, o abandono que sinto todo segundo no meu dia, tão bem simbolizado pelo cenário de escuridão desolada e sem fim da alta noite, é o que me incomoda. Meio como o que aconteceu com meu último relacionamento amoroso, a convivência diária tornou- se sufocante, apesar de não conseguir abandonar. Se for embora, o que me restará? Minhas reclamações não têm fundamento, mas é tudo o que tenho. Sou o que sou e essa é minha maldição e benção. "Mal- estar da civilização". Madrugada, perfeita metáfora para isso. Sou mais um romãntico com um amor pela arte, aspirações artísticas e nenhum treinamento para as coisas práticas. Eu não terei um final feliz. Sei disso tanto quanto que meu tempo é limitado. A doença está se agravando. Tudo o que resta é fazer com que, pelo menos, a escrita sobreviva. É um luxo, sintoma de meu egoísmo. Escrever é um luxo. Logo, é inútil. Apenas são visões de mundos que estão bem na nossa cara todo santo dia. Análises. Punhetagem. Desde o manifesto de Marx e Engels, não consigo lembrar de nenhum escrito que mudou o rumo de nossas vidas. E, mesmo esse, era outra análise daquele mundo. Análises são inúteis. Não salvaram a humanidade. Apenas incrementou papos cabeça. Agora, me surgiu uma questão: os textos não mudaram a humanidade por, essencialmente, não ser a função deles ou a culpa é nossa? Nessa madrugada, sem humanos e uma lua que parece um buraco de fechadura para esse mundo perdido, nada melhor do que fazer perguntas diversas. Poucas importam. A que escolho para encerrar o texto é essa: Por que somos tão inertes? Temos a faca e o queijo na mão. Só não sabemos o que fazer com ambos. Eu não sei. Não adianta mais me enganar, olhar para o horizonte mergulhado na uniformidade escura esperando que algo surja. A resposta ou a bomba atômica. Queria que fosse a segunda opção. Todas as noites são longas, por isso, acho que vou fumar um cigarro.

terça-feira, novembro 02, 2004

GEORGE W. BUSH COMO A ENCARNAÇÃO DE DICK VIGARISTA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

Toda história precisa de um vilão. Nossa História é cheia de pessoas que amamos odiar, seja Hitler, Osama, Stalin, Geisel, Pinochet, ... Em comum só coisas pequenas, como a sede pelo poder, os massacres, a infâmia e os nomes exóticos. Todo período de turbulência mundial produz, pelo menos, um desses. Oferta e demanda, como aprendi nas tristes aulas de Introdução à Economia. Independente dos atos que cometeram, é sempre bom ter alguém para odiar. Se o objeto de nossa afeição às avessas é um alvo universal, melhor! É meio como a utopia socialista: todos os homens são iguais naquilo odiam! Posso puxar de memória um exemplo recente, mesmo que tenha ocorrido numa escala bem menor: as últimas novelas da oito. Todo mundo odiava a Laura de "Celebridade". Odiavam tanto que só falaram nela, deram capa de revista para ela e até um apelido do público ganhou! Eu, que não assisto novela, sabia quem ela era e, inclusive, da porrada que levou da Malu Mader. A novela acabou, agora quem assumiu foi a "Senhora do Destino" ( e do sotaque forçado ) e temos a Nazaré, nossa nova nêmesis do coração! Mas não quero falar de vilões tão restritos, tão regionais. Como disse, quero tratar do vilão da novela mais transmitida e campeã de audiência do planeta! Pretendo falar do cara- mau mais popular dos últimos 2 anos! Do caipira texano nos levou aos risos e às lágrimas com sua estupidez! Até o Michael Moore fez um filme inteirinho sobre o cara! Não sejam tímidos, vocês sabem de quem estou falando! George W. Bush! Aplausos! Não? Então, vaias! Isso! Demonstrem o amor! Ele merece!...
George W. Bush é o Dick Vigarista ou o Coiote que deu certo: um imbecil que comete atos arbitrários e, apesar de todas as evidências apontando para falhas, ignora e continua persistindo no erro. um cara que, em diversas ocasiões, provou sua inaptidão como chefe de nação e do mundo: aproveitou- se nitidamente de uma tragédia para benefício próprio, demonstrou sua truculência em inúmeras ocasiões ( a maior delas, o conhecido "não enche o saco", seguido de rasteira, que deu para a ONU ) e utilizou de justificativas para sua política externa dignas de uma criança de 5 anos: "O mundo é dividido entre Bem e Mal", "Eu invadi o Iraque, porque Saddam era mau.", "Não tinha armas "nuculares". Foi mal." Fala sério! Se Bush tivesse um cachorro chamado Rabugento, ficaria perfeito! A obsessão do atual presidente americano pelo Iraque muito lembra a que o Coiote nutria pelo Papa- Léguas. Resumindo: esse cara não pode ser reeleito! Mas isso é chover no molhado, todo intelectual, seja em colunas nos jornais ou no balcão do bar da esquina, está dizendo isso. Na França, uma passeata trouxe uma cacetada de pessoas ( não lembro o número agora, valeu ? ) às ruas para protestar contra a possível reeleição do sujeito. Incrível!... E aí, surge a minha pergunta: O que esse pessoal odia de verdade, Bush ou o atual presidente dos EUA? A figura que fizemos dele ou seus atos como governante da nação que manda no mundo? Me vieram à cabeça duas imagens que nunca esqueci. Uma, era a de um menino de uns 4 anos, falando para um propaganda política: "Fala pro Bush que ele não é meu amigo." Esse moleque sabe quem é Bush ou o que ele fez? Ou tratava- se de um garoto prodígio em relações internacionais ou então uma terceira voz disse que ele deve odiar "o cara mau". Logo após, veio às telas o "Fahrenheit 11 de setembro" ( cara, esse título brasileiro é horrível! ). Um sucesso de bilheteria, em as platéias, obedientes, levantavam ao final e aplaudiam entusiasticamente. No anos 30, na Alemanha, nazistas devem ter tido o mesmo orgasmo intelectual ao assistirem aqueles documentários anti- semitas. Então, o pessoal que foi assistir o filme do Michael Moore são um bando de fascistas enrustidos? Não! O meu problema com esse filme é algo que seu realizador inclusive assumiu publicamente: seu caráter panfletário. Moore pinta Bush como um idiota e, como Maquiavel faria, utiliza de todos os meios a sua mão para isso. No caso, ele aprofundou mais certas denúncias do que outras, fez diversas insinuações sem muito fundamento ( como quando ele sugere a Fox teria "conspirado" a favor do candidato republicano, ou melhor, quando toca o riff de "Cocaine" do Eric Clapton no momento em que Moore relata o afastamento do Bush da Força Aérea do Texas ) e não hesitou em manipular as emoções do espectador de maneira a convencê- lo, convertê- lo a sua causa. As imagens do Iraque como um lugar pacífico até a Invasão americana ou da mãe chorando em frente à Casa Branca é um insulto a platéia supostamente inteligente que ele alega atingir, um artifício digno das novelas do SBT! Essas foram as escolhas que Moore achou melhor para vender sua causa e, por mais que eu as condene, foi a opção assumida dele. O que me irrita de verdade é as pessoas verem "Fahrenheit 11 de setembro" como uma verdade absoluta. É o fato de julgarem com apenas um lado da história à disposição. "Fahrenheit 11 de setembro" é tão corrompido quanto as reportagens da CNN glorificando a guerra. São opostos da mesma moeda. E o público pensante revela- se tão ignorante quanto aqueles que não tiveram a mesma educação. Pior, enquanto esses últimos o são devido a deficiências práticas, os primeiros são por cegueira ou modismo. ( Afinal, convenhamos, dá para tirar muita onda falando sobre "A Polêmica" e "A Verdade" no novo filme do "Rebelde da Hora". Posso até ver os jovens de classe média- alta, metidos a intelectuais, numa casa de samba com ingresso a R$ 20 conversando sobre "Fahrenheit 11 de setembro". ) Enfim, posso ter me extendido falando sobre o filme, mas não fugi da questão: odiamos uma figura folclórica ou uma pessoa real? Atualmente, o mundo torce para que John Kerry, o candidato democrata, ganhe. Kerry tornou- se o salvador da pátria pelo motivo mais simples e idiota do mundo: toda história precisa de um mocinho. Se Bush é o vilão, logo Kerry só pode representar ser o bom. A maior qualidade do outro candidato é que ele não é o atual comandante da Terra. Isso não basta. Será que as pessoas já pararam para pensar que, com Kerry na Casa Branca, as coisas não vão mudar tanto? Que os EUA continuarão a desrespeitar o Tratado de Kyoto e com suas políticas protecionistas, barrando a entrada de produtos brasileiros no exterior? Que, aliás, nossa política externa talvez até encontre mais barreiras, na retórica liberal de Kerry? Sua plataforma é revitalizar a economia norte- americana. Beleza, mas quem se fode nessa história? Vou dar uma dica: você vive nesse lugar. Ninguém está discutindo isso. Ninguém está discutindo seriamente as conseqüências dessa eleição. Só hoje, vi uma matéria sobre o assunto no "Globo". Se Bush é Dick Vigarista, Kerry assumiu a persona de mocinho. A única esperança real que temos é o fato de que Kerry anunciou suas intenções de cessar as operações no Iraque. E depois? Como fica o Iraque? E se Kerry escolher outro país para invadir? É possível, os mais recentes ex- presidentes dos EUA fizeram, por que não ele? Aí, o que será de Kerry? Quando Lula foi eleito presidente do Brasil, foi a mesma história. "Ele vai salvar o país!" Salvou? Não, pelo contrário, as pessoas estão reclamando que nada mudou. Verdade ou será novamente preguiça de ver o quadro maior da situação, de termos uma mentalidade voltada para resultados a curto prazo? O que nos resta em relação à eleição americana é o mesmo sentimento de esperança que nós, brasileiros, nutrimos nas eleições de 2002: a esperança de que algo pode mudar. Pode acontecer ou não. Mas, pelo menos, não será como é agora. O que não vai mudar é que sempre arrumaremos alguém para fazer papel de vilão e de mocinho, mesmo que, no fundo, não faça muita diferença.

MENSAGEM DE UTILIDADE PÚBLICA 2

Caso você, leitor, esteja interessado em ler mais textos de autoria de bons e novos escritores, acesse a página "Chuta o Balde". O endereço é www.chutaobalde.com.br e lá você pode ler as colunas de talentos como eu próprio ( O Cri- critico ), Vinícius Faustini ( Seu Brasílio ), Brisa Albuquerque ( TPM News ) e muitos outros. Outra página é a Culturall: www.culturall.com.br . Destaco a seção de poesia, escrita por uma amiga minha, Mônica Montone, em que novos poetas podem enviar seus trabalhos e há também as crônicas da Mônica, que nunca me decepcionaram. Eu sei que pode parecer paternalista da minha parta anunciar escritos de amigos meus. E sou mesmo! Toda cultura nova ou novos escritores merecem todo o destaque possível! E quanto maior a união, melhor! Por isso, acesse Chuta o Balde ( www.chutaobalde.com.br ) e Culturall ( www.culturall.com.br ). Não vai doer, talvez até goste! E, para fechar, um dos meus chavões favoritos: Viva a cultura!