terça-feira, novembro 02, 2004

GEORGE W. BUSH COMO A ENCARNAÇÃO DE DICK VIGARISTA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

Toda história precisa de um vilão. Nossa História é cheia de pessoas que amamos odiar, seja Hitler, Osama, Stalin, Geisel, Pinochet, ... Em comum só coisas pequenas, como a sede pelo poder, os massacres, a infâmia e os nomes exóticos. Todo período de turbulência mundial produz, pelo menos, um desses. Oferta e demanda, como aprendi nas tristes aulas de Introdução à Economia. Independente dos atos que cometeram, é sempre bom ter alguém para odiar. Se o objeto de nossa afeição às avessas é um alvo universal, melhor! É meio como a utopia socialista: todos os homens são iguais naquilo odiam! Posso puxar de memória um exemplo recente, mesmo que tenha ocorrido numa escala bem menor: as últimas novelas da oito. Todo mundo odiava a Laura de "Celebridade". Odiavam tanto que só falaram nela, deram capa de revista para ela e até um apelido do público ganhou! Eu, que não assisto novela, sabia quem ela era e, inclusive, da porrada que levou da Malu Mader. A novela acabou, agora quem assumiu foi a "Senhora do Destino" ( e do sotaque forçado ) e temos a Nazaré, nossa nova nêmesis do coração! Mas não quero falar de vilões tão restritos, tão regionais. Como disse, quero tratar do vilão da novela mais transmitida e campeã de audiência do planeta! Pretendo falar do cara- mau mais popular dos últimos 2 anos! Do caipira texano nos levou aos risos e às lágrimas com sua estupidez! Até o Michael Moore fez um filme inteirinho sobre o cara! Não sejam tímidos, vocês sabem de quem estou falando! George W. Bush! Aplausos! Não? Então, vaias! Isso! Demonstrem o amor! Ele merece!...
George W. Bush é o Dick Vigarista ou o Coiote que deu certo: um imbecil que comete atos arbitrários e, apesar de todas as evidências apontando para falhas, ignora e continua persistindo no erro. um cara que, em diversas ocasiões, provou sua inaptidão como chefe de nação e do mundo: aproveitou- se nitidamente de uma tragédia para benefício próprio, demonstrou sua truculência em inúmeras ocasiões ( a maior delas, o conhecido "não enche o saco", seguido de rasteira, que deu para a ONU ) e utilizou de justificativas para sua política externa dignas de uma criança de 5 anos: "O mundo é dividido entre Bem e Mal", "Eu invadi o Iraque, porque Saddam era mau.", "Não tinha armas "nuculares". Foi mal." Fala sério! Se Bush tivesse um cachorro chamado Rabugento, ficaria perfeito! A obsessão do atual presidente americano pelo Iraque muito lembra a que o Coiote nutria pelo Papa- Léguas. Resumindo: esse cara não pode ser reeleito! Mas isso é chover no molhado, todo intelectual, seja em colunas nos jornais ou no balcão do bar da esquina, está dizendo isso. Na França, uma passeata trouxe uma cacetada de pessoas ( não lembro o número agora, valeu ? ) às ruas para protestar contra a possível reeleição do sujeito. Incrível!... E aí, surge a minha pergunta: O que esse pessoal odia de verdade, Bush ou o atual presidente dos EUA? A figura que fizemos dele ou seus atos como governante da nação que manda no mundo? Me vieram à cabeça duas imagens que nunca esqueci. Uma, era a de um menino de uns 4 anos, falando para um propaganda política: "Fala pro Bush que ele não é meu amigo." Esse moleque sabe quem é Bush ou o que ele fez? Ou tratava- se de um garoto prodígio em relações internacionais ou então uma terceira voz disse que ele deve odiar "o cara mau". Logo após, veio às telas o "Fahrenheit 11 de setembro" ( cara, esse título brasileiro é horrível! ). Um sucesso de bilheteria, em as platéias, obedientes, levantavam ao final e aplaudiam entusiasticamente. No anos 30, na Alemanha, nazistas devem ter tido o mesmo orgasmo intelectual ao assistirem aqueles documentários anti- semitas. Então, o pessoal que foi assistir o filme do Michael Moore são um bando de fascistas enrustidos? Não! O meu problema com esse filme é algo que seu realizador inclusive assumiu publicamente: seu caráter panfletário. Moore pinta Bush como um idiota e, como Maquiavel faria, utiliza de todos os meios a sua mão para isso. No caso, ele aprofundou mais certas denúncias do que outras, fez diversas insinuações sem muito fundamento ( como quando ele sugere a Fox teria "conspirado" a favor do candidato republicano, ou melhor, quando toca o riff de "Cocaine" do Eric Clapton no momento em que Moore relata o afastamento do Bush da Força Aérea do Texas ) e não hesitou em manipular as emoções do espectador de maneira a convencê- lo, convertê- lo a sua causa. As imagens do Iraque como um lugar pacífico até a Invasão americana ou da mãe chorando em frente à Casa Branca é um insulto a platéia supostamente inteligente que ele alega atingir, um artifício digno das novelas do SBT! Essas foram as escolhas que Moore achou melhor para vender sua causa e, por mais que eu as condene, foi a opção assumida dele. O que me irrita de verdade é as pessoas verem "Fahrenheit 11 de setembro" como uma verdade absoluta. É o fato de julgarem com apenas um lado da história à disposição. "Fahrenheit 11 de setembro" é tão corrompido quanto as reportagens da CNN glorificando a guerra. São opostos da mesma moeda. E o público pensante revela- se tão ignorante quanto aqueles que não tiveram a mesma educação. Pior, enquanto esses últimos o são devido a deficiências práticas, os primeiros são por cegueira ou modismo. ( Afinal, convenhamos, dá para tirar muita onda falando sobre "A Polêmica" e "A Verdade" no novo filme do "Rebelde da Hora". Posso até ver os jovens de classe média- alta, metidos a intelectuais, numa casa de samba com ingresso a R$ 20 conversando sobre "Fahrenheit 11 de setembro". ) Enfim, posso ter me extendido falando sobre o filme, mas não fugi da questão: odiamos uma figura folclórica ou uma pessoa real? Atualmente, o mundo torce para que John Kerry, o candidato democrata, ganhe. Kerry tornou- se o salvador da pátria pelo motivo mais simples e idiota do mundo: toda história precisa de um mocinho. Se Bush é o vilão, logo Kerry só pode representar ser o bom. A maior qualidade do outro candidato é que ele não é o atual comandante da Terra. Isso não basta. Será que as pessoas já pararam para pensar que, com Kerry na Casa Branca, as coisas não vão mudar tanto? Que os EUA continuarão a desrespeitar o Tratado de Kyoto e com suas políticas protecionistas, barrando a entrada de produtos brasileiros no exterior? Que, aliás, nossa política externa talvez até encontre mais barreiras, na retórica liberal de Kerry? Sua plataforma é revitalizar a economia norte- americana. Beleza, mas quem se fode nessa história? Vou dar uma dica: você vive nesse lugar. Ninguém está discutindo isso. Ninguém está discutindo seriamente as conseqüências dessa eleição. Só hoje, vi uma matéria sobre o assunto no "Globo". Se Bush é Dick Vigarista, Kerry assumiu a persona de mocinho. A única esperança real que temos é o fato de que Kerry anunciou suas intenções de cessar as operações no Iraque. E depois? Como fica o Iraque? E se Kerry escolher outro país para invadir? É possível, os mais recentes ex- presidentes dos EUA fizeram, por que não ele? Aí, o que será de Kerry? Quando Lula foi eleito presidente do Brasil, foi a mesma história. "Ele vai salvar o país!" Salvou? Não, pelo contrário, as pessoas estão reclamando que nada mudou. Verdade ou será novamente preguiça de ver o quadro maior da situação, de termos uma mentalidade voltada para resultados a curto prazo? O que nos resta em relação à eleição americana é o mesmo sentimento de esperança que nós, brasileiros, nutrimos nas eleições de 2002: a esperança de que algo pode mudar. Pode acontecer ou não. Mas, pelo menos, não será como é agora. O que não vai mudar é que sempre arrumaremos alguém para fazer papel de vilão e de mocinho, mesmo que, no fundo, não faça muita diferença.

1 Comments:

Blogger Guilherme Martins da Costa said...

Uma coisa importante. Todos os líderes que estiveram a frente de idéias boas para o mundo, no caso os pacifisatas e afins, tinham uma capacidade incrível de conquistar as emoções de quem os escutava. Não adianta chegar com uma idéia boa apenas, se do outro lado tem gente fazendo de tudo para estragar o mundo com armas e já domina a mente das massas. Pergunte a qualquer especialista em psicologia, as pessoas comprar muito mais a atitude e a sua capacidade de motivação do que as suas crenças e objetivos propriamente ditos.
Prefiro ficar com o Moore.

10:34 PM  

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