sábado, novembro 19, 2005

OS HOMENS SOLITÁRIOS DE DEUS

"A solidão me seguiu a vida toda, em todo o lugar. Eu sou o Homem Solitário de Deus." Travis Bickle ( Robert De Niro ) em "Taxi Driver".
Parte 1 - Radio
Cada vez mais entendo um dos motivos que levou Travis a fazer aquilo. Se a solidão fosse um algo vivo seria uma hera venenosa: uma planta que que toma conta de tudo, se alimentado de todos os espaços limpos, puros e machucando, matando todos os que tentassem impedir sua expansão. Mas a solidão não tem forma uma visível. Não! Como ar, não podemos vê-la, mas sabemos que está lá. É o que nos mantém vivos. Não podemos ver, nem combater. Como uma doença sexualmente transmissível, dotada da mesma pervesidade, ela está dentro de nós. Em minhas veias, em minha cabeça, dando petelecos, "Pedala, Robinho." É como um diabinho no ombro que sussurra dentro do sistema de som de nosso corpo. Como o locutor de uma estação de rádio que escutamos sempre. O único problema é não conseguimos desligar. Falta o botão, onde está? O pique na audiência é quando nos vemos cercados por faces que nada significam. Rostos conhecidos, mas cuja face está ausente de marcas. Seu único significante é o vazio. São máscaras que tentam disfarçar, sem muito esforço, um aglomerado de corpos uniformes, indiferenciados. Esbarra- se nesses corpos como com uma cadeira no meio do caminho: recupera o fôlego e segue em frente. Troca- se cumprimentos, automatizam- se sorrisos. E nenhuma conexão ocorre. Nada acontece. A pessoa não passa nada e você também está resistindo ao exterior. O volume do rádio aumenta e dá- se conta de que não tocam mais músicas e chegou a vez do bloco com os locutores. O Bloco da Solidão. Está em seu Auge e Você está com todo seu Foco nele. O nome do bloco é "Acho que estou ficando psicótico". Com uma voz macia e confiante, que inebria o ambiente como fumaça, fala: "Você não pertence a esse lugar. Essas pessoas não se importam com você. Gostam de você, conversam, mas só ligam para seus grupos e para si mesmos. Não há lugar para você aí. Você é como um taxista: pode dizer algumas observações espirituosas, provocar risos, trocar idéias, mas, no final, não resta ninguém. Todos somem. Se você se acidentar. ninguém saberá até que alguém descubra por acaso, por um comentário que ouviu de um amigo de um conhecido. Algo vindo das profundezas do opaco. Morra e daí? Ninguém quer realmente saber de você. Nem você. E, agora, "Dead Souls", com Joy Division. " Em meios aos gritos da canção, realimento minha falta de fé em tudo, como uma vaca, comendo o que regurgita.