CRÔNICA 1
HOJE É O ECLIPSE
Li que eclipses são importantes na astrologia. Simbolizam o final de uma fase e o início de outra. Se será melhor, pior, a informação relevante, ninguém diz ou assume não saber. Aguardo ansioso. Para alguém que vive de promessas, sobrevivendo à realidade que não corresponde às expectativas, é uma grande oportunidade.
Pesquisei mais e descobri que o Arpoador é o melhor lugar para observar o fenômeno. Será parcial e começará assim que a lua surgir. Estarei lá. Eu e várias pessoas, cada um com suas razões. O próximo ocorrerá em 2009; é muito bonito; um bom assunto para conversar no jantar ou no bar; uma ocasião para levar seus amantes e cristalizar o sentimento, como se aquilo fosse apenas para os dois e os outros meros coadjuvantes, penetras numa festa particular. De alguma forma inconsciente, todos parecem saber que é uma nova era está surgindo e não querem perder o ritual de passagem.
Para onde vamos? O que acontecerá com o mundo? Como nossos corações e mentes reagirão? Reconheceremos nossos erros? Seremos pessoas melhores ou mergulharemos no abismo? Ao encarar o fundo do poço elevado aos céus, com o contorno de uma faísca branca, o que faremos? Abraçaremos as trevas ou nos agarraremos àquele resquício de luz? Onde está a redenção? Na escuridão, onde todos são cegos e iguais, ou na luz, tão bela e dotada da capacidade de criação? Queremos fraternidade ou renovação? O resumo de todas as dúvidas de uma nova época, que só agora ganha formas.
Quando a Terra estiver Sol e Lua, a porta se abrir, algo sairá ou entrará. Tocará a todos nós. Se nossas mentes estiverem abertas, talvez nossos desejos se tornem reais. A imaginação se fortalecerá de tal maneira que se libertará e virá ao nosso encontro. Assim que encararmos nosso reflexo, em meio à transição, ele perguntará se o início é o fim ou fim é o início. Tremeremos, como seres de carne e osso. Talvez alguns escutarão a pergunta, outros estarão presos demais no evento para prestar atenção.
Eu fecharei meus olhos. Me ajoelharei, juntarei minhas mãos com força, rezando. Trincarei os dentes. Não me importarei com a sujeira ao meu redor. Tudo para implorar perdão por todas essas coisas que eu fiz. Assumo minha culpa. Fui dominado por obsessões de origem nebulosa. Quando tudo estiver quase escuro, responderei ao enigma, esperando não ser devorado no processo.
Vou querer que o eclipse acabe logo. Preciso de luz.