quinta-feira, maio 01, 2008

CLUBE DA LEITURA 6

O SINAL

Peço, da maneira mais humilde que consigo, perdão, Senhor. Eu não fui digno de presentear Vosso filho. Sou apenas um homem e nada além disso. Obtive a graça de ver o sinal dourado na madrugada penetrante. Quantos homens, mulheres e crianças não são abençoados, às vezes, e de que não tomamos conhecimento? A vida, em si, não seria a maior graça e a morte a forma de ver se fomos merecedores desta?
Durante minha fase na Terra, fui rei. Como uma pessoa honrada, fiz aquilo que achei certo para o benefício de todos ao meu redor e o próprio. Com sorte, acertei quase tanto quanto errei. Não quero soar pretensioso, Senhor. Apenas é como analiso meu tempo neste momento em que ele se esgota, como os últimos trechos de água de um rio no período de seca. Tudo é breve e imprevisível. Só podemos esperar que tenhamos feito o certo, o bem por si mesmo. Nem sempre fui assim e, daquela época, sinceramente me arrependo.
Apesar de meu desejo de me adereçar diretamente a Vós, sinto – me impossibilitado de fazê – lo apropriadamente. Nada nos prepara para o futuro, especialmente quando este surge na forma de perda. Enquanto tento prestar minhas contas, não consigo ser humilde o suficiente para controlar meus sentimentos de raiva, tristeza e medo. Muito medo. Como uma criatura selvagem encurralada por seu predador, mantenho uma defesa feroz da minha vida, na inútil esperança de que tudo tenha sido um engano.
Por favor, me dê mais um dia! Conceda – me alguns minutos para resolver minhas pendências! Sou incapaz de fazer a transição com serenidade sem pedir perdão às pessoas que amei e magooei! Queria poder remendar todos os atos que cometi no calor do momento, sem enxergar as sutilezas do grande tecido que é o destino.
Caso Vosso plano para mim já esteja fechado, peço, novamente, humildemente, que mostre àqueles que decepcionei um sinal de que lhes peço desculpas e que também os perdôo por terem me ofendido, se assim acham. Um sorriso da pessoa amada, um abraço de verdade de alguém com que eles realmente se importam, um presente inesperada ou uma benção discreta, como a brisa que bate na nuca num dia quente de verão... Este é o último desejo de um moribundo.
Não faço este pedido para Tenhais misericórdia em meu julgamento. Minha intenção sincera é outra. Como não posso e não pude mudar o mundo, gostaria de, ao menos, proporcionar um pequeno momento de felicidade para todos que afetaram minha vida. Que os que a alegraram, sejam recompensados por seu carinho para comigo. Que os que me entristeceram, recebam este gesto como o sinal de que há uma forma melhor de viver, não egoísta e aberta. Eu sei disso, porque eu era assim até o momento em que vi a estrela cortar o pano preto da minha alma. Foi quando percebi que poderia ser feliz... Foi rápido e transformou por completo o curso de minha vida. Foi quando testemunhei o parto de um novo mundo. As coisas mudam, enquanto esperamos por sinais...

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Que lindo Daninho!
Aêê meu amigo é um belo escritor!

9:27 PM  

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