sábado, novembro 20, 2004

COMO UMA ONDA

Segunda- feira, estréia a nova novela da seis, "Como uma onda". Foda- se, eu não assistir. Não vejo novela e não sinto a menor culpa nisso. A música- tema, aparentemente, é o título da novela; conhecida entre meus amigos como o "melô do surfista tarado". Piadinhas infames à parte, ao pensar nesse título, vi- o como uma boa definição para minha vida atual. Batendo na praia e voltando, para bater outra. Num ritmo vicioso, auto- destrutivo e sem saber o por que. Como tenho levado minha vida. Como uma onda. Hoje, fui na reinauguração do sebo Baratos da Ribeiro ( http://baratosdaribeiro.blogspot.com ). Reinauguração em termos, pois o sebo estava funcionando desde terça- feira, mas, enfim... Lá, reencontrei algumas caras conhecidas, outras novas, conversei, enchi a cara e paguei mico. estou com dor de cabeça até agora, por sinal. Mas a ressaca verdadeira foi ter percebido que eu não mudei tanto quanto imaginava. E isso é algo ruim. O garoto inseguro, puto por levar um fora da ex- namorada e das outras namoradas, c0onhecidas como oportunidade, reconhecimento e sucesso, ainda existia. Apesar de ter deixado de me importar tanto com a realização pessoal, abraçando a divulgação da nova cultura, de todos os novos artistas, das pessoas que têm coisas boas a dizer, mas não o espaço, ainda há um ressentimento. Meu jeito espalhafatoso me impede de ser levado a sério. Sou tratado como um figura folclórica. Conseqüentemente, a causa que resolvi defender fica abalada. Como levar a sério um bêbado escandoloso, que fica tirando vantagem o tempo inteiro? Como achar que o que ele está falando não seja um monte de besteira? E, ao invés, de combater essa imagem, eu a perpetuo. O sebo foi reformado, parece novo para os outros, mas não pareceu para mim. O sebo tornou- se uma metáfora perfeita de mim mesmo. Por mais que tenha mudado de atitude, que esteja mais sóbrio, mais produtivo, que tenha uma nova garota, por dentro, continuo a mesma pessoa que tanto que desejo afastar. Enquanto ela existir, meu novo eu será apenas uma fachada. O chão ladrilhado pode passar a impressão de que a loja aumentou, quando ela continua do mesmo tamanho, quando nada, efetivamente mudou. A prova maior é que durante a semana que passou, apesar de que adiantar diversos trabalhos, deixe- me não fazer nada. Simplesmente, não me esforcei como, teoricamente, o recente eu deveria ( prefiro "recente", porque "novo" seria radical demais, logo, mentiroso. ). Por mais que quisesse, minha mente não deu ouvidos e meu corpo concordou alegremente. Eu não fiz nada e agora estou fodido. Tudo bem. Eu mereço. Afinal, assim como o "antigo" eu, acho que mereço me ferrar. Não cumpri com minhas obrigações, vou correr para salvar minha pele. Sei que poderia ter feito melhor. Poderia ter passado com glórias. Sou capaz. Entretanto, a auto- destruição é parte intríseca de mim. Não me abandonará. Eu não deixarei.
Honestamente, não sei por que, mas, como disse anteriormente, acredito que todos somos auto- destrutivos, cada um a sua maneira, como o comercial da lanchonete de "Super size me". Mas eles não vêem isso. Eu sim. Logo não me sinto culpado. A minha agonia é saber que poderia fazer outra coisa além de deitar e esperar o apocalipse surgir, em todo seu esplendor.
Ao som melancólico dessa música, voz calma e ninante de Lulu Santos, olho as ondas batendo na areia, bem à minha frente, final de tarde e me pergunto, mentalmente:"E se?" E se?