sexta-feira, novembro 05, 2004

MADRUGADA

Sentado em frente ao computador, às 3: 00 da manhã, sem perspetivas, muitos receios e nada a fazer. Sinto- me sedado. Sei que poderia estar fazendo algo útil, adiantando trabalho, tentando encontrar soluções para os problemas que criei para mim mesmo, mas não faço. A noite está escura. Do lado de fora da janela, vejo umas poucas luzes à distância e imagino como deve estar a Avenida Atlântica a essa hora? Como estarão as garotas? Nas entrevistas que fiz com elas, algumas reclamaram que eram infelizes. Não gostavam do faziam, mas não sabiam outra coisa que desse um retorno tão rápido. Não ousam mudanças, pois temem perderem o pouco de bens materiais que possuem. São mais exemplos de almas mortas, que gritam por dentro e por fora, aparentam calma, "O Silêncio que precede o Esporro". Eu também quero gritar. Queria ser um rebelde, mas sou apenas mais um revoltado. Queria ser alguém, ser especial para alguém. Não estou dizendo que não sou, mas eu não sinto isso. Sou um ingrato e não fico me culpando pelo meu egoísmo. Entretanto, o vazio, o abandono que sinto todo segundo no meu dia, tão bem simbolizado pelo cenário de escuridão desolada e sem fim da alta noite, é o que me incomoda. Meio como o que aconteceu com meu último relacionamento amoroso, a convivência diária tornou- se sufocante, apesar de não conseguir abandonar. Se for embora, o que me restará? Minhas reclamações não têm fundamento, mas é tudo o que tenho. Sou o que sou e essa é minha maldição e benção. "Mal- estar da civilização". Madrugada, perfeita metáfora para isso. Sou mais um romãntico com um amor pela arte, aspirações artísticas e nenhum treinamento para as coisas práticas. Eu não terei um final feliz. Sei disso tanto quanto que meu tempo é limitado. A doença está se agravando. Tudo o que resta é fazer com que, pelo menos, a escrita sobreviva. É um luxo, sintoma de meu egoísmo. Escrever é um luxo. Logo, é inútil. Apenas são visões de mundos que estão bem na nossa cara todo santo dia. Análises. Punhetagem. Desde o manifesto de Marx e Engels, não consigo lembrar de nenhum escrito que mudou o rumo de nossas vidas. E, mesmo esse, era outra análise daquele mundo. Análises são inúteis. Não salvaram a humanidade. Apenas incrementou papos cabeça. Agora, me surgiu uma questão: os textos não mudaram a humanidade por, essencialmente, não ser a função deles ou a culpa é nossa? Nessa madrugada, sem humanos e uma lua que parece um buraco de fechadura para esse mundo perdido, nada melhor do que fazer perguntas diversas. Poucas importam. A que escolho para encerrar o texto é essa: Por que somos tão inertes? Temos a faca e o queijo na mão. Só não sabemos o que fazer com ambos. Eu não sei. Não adianta mais me enganar, olhar para o horizonte mergulhado na uniformidade escura esperando que algo surja. A resposta ou a bomba atômica. Queria que fosse a segunda opção. Todas as noites são longas, por isso, acho que vou fumar um cigarro.