domingo, junho 29, 2008

CLUBE DA LEITURA 8

Para não concorrer comigo mesmo, decidi postar contos que não entraram na página do Clube da leitura (www.baratosdaribeiro.com.br/clubedaleitura , passem e comentem!) e publicar inéditos no blogue. Como este.
FREAKSHOW
Agora, escuta essa.
O homem, deprimido, dirigia em uma longa avenida. Ele achava que sua vida era como a rua, uma trajetória sem fim e obstáculos para frente. No entanto, quando menos esperava, foi vítima de um golpe. Nada restava naquele momento do que se recuperar e torcer para que não fosse tarde demais para conquistar algumas doses de glória. O homem pensou que se o seu carro estava na quarta marcha, sua vida parecia ter ficado presa em primeira. A música estava alta e ele procurava por algo novo. Qualquer uma, que libertasse da rotina agridoce em que se encontrava. As luzes alaranjadas dos altos postes, que cortavam seu semblante a cada 2 segundos, aumentavam a melancolia e faziam da busca, inadiável.
Ele, finalmente, pára e encosta.
- Oi.
- Oi, amor. Tá a fim de um amor gostoso?
- Eu não sei... pode ser...
- Completinha é 100.
- Entra aí...
- Você me parece familiar...
O homem tremeu neste momento. Para não ter que voltar à realidade da mente, começou a dizer que ia levá – la para um motel que conhecia, muito discreto, e que poderia pagar mais se gostasse do serviço. A passageira, finalmente, acalmou e improvisou uma tabela de preços. O homem, crédulo, ouvia com atenção.
Eles chegam ao motel. Param, pagam, pegam a chave, param de novo, saem e andam até o quarto.
É uma suíte de luxo, com banheira para quatro, sauna, poltronas, frigobar e espelhos por todas as paredes. Na cômoda, botões que ativavam desde o sistema de refrigeração à TV. A passageira sintoniza numa estação e inicia uma desajeitada dança sensual. O homem se senta e assiste, ligeiramente boquiaberto, fascinado com aquela estranha criatura.
- Você já se sentiu como se não pertencesse?
- Hum... fala não, bofe. Vem dançar, vem...
- Não. Eu prefiro ver. Mas, não sei, você já se sentiu como se as pessoas te rejeitassem, por mais que você... tenha tentado se inserir, tenha sido legal com todo mundo...
- Querido, escuta a música... Não te deixa com tesão?
- Por mais que você tenha tentado, eles ainda te olham como se você fosse um estranho, uma criatura do outro mundo...
- Mais do que imagina... Ai...
- Você é chutado do mundo deles... Não, porque você tenha feito algo errado. Não... Você fez tudo certo. O problema é, você não pertence. O acesso é exclusivo e você não tem pedigree. Você é uma aberração...
- Você quer conversar ou quer sexo?
- Tira a roupa.
Ela tira tudo de uma vez. Seu corpo é marcado por cicatrizes e cortes. Os seios são pequenos e caídos, como se tivessem sido colados ao tórax pelo lado de fora. As mãos e pés, grandes. O rosto, que não escuridão, disfarçava, ganhou feições mais masculinizadas. Entre as pernas, um grande pênis.
- Quer fazer amor, gatinho?
O homem tira a roupa. Seu corpo, apesar de musculoso, é pequeno, quase delicado. Os pêlos faciais são grosseiramente falsos. O peito é liso e rente. Seus olhos apertados e as bochechas, ligeiramente rosadas. Ele tira a última peça de roupa, a cueca, e revela uma vagina.
- Não. Quero que você me coma, aberração.