sexta-feira, maio 02, 2008

TEXTO DE UM APRENDIZ

O AMOR NOS FAZ DE ANIMAIS

Este texto surgiu de um telefonema não atendido e de palavras que nunca consegui dizer como deveria. Ele aparece em neste formato, porque sempre me expressei melhor assim, do que deixando que meus reais sentimentos, e não os efêmeros e imediatos, viessem a meus lábios e saíssem de minha boca. Se é meloso, assumo a culpa. É o que sinto e, às vezes, é melhor desabafar do que buscar incessantemente a elegância e sutileza literárias.
Nada faz superar um amor do que um novo. É o que dizem. Sinceramente, ainda não sei. Amei de verdade uma única pessoa na minha vida e ela ainda é muito especial para mim. No bom e no mal sentido.
Eu desejo para ela o melhor de tudo. Quero que ela encontre uma pessoa maravilhosa e se case. Tenha filhos. Um bom apartamento e situação financeira. Quero a vida dela seja completa e, em seu leito de morte, ela se vá com um sorriso, porque foi bonita como um nascer do sol em uma praia paradisíaca. Ela merece, assim como eu e qualquer pessoa que tenha o coração no lugar certo. É a mais pura verdade.
Por que, então, toda a vez que a vejo, perco a razão e ajo feito uma besta? Será por que não arrumei uma nova pessoa para ocupar o espaço que vagou em meu espírito? Será por que ela já encontrou outra? Será possessão? Será devido a não a aceitar a inevitabilidade do destino, que mais uma vez me prova que seu curso seguirá, mesmo sem mim a bordo? Será tudo isso ou outra coisa?
Ela não me ama mais. É um fato. Ainda se importa comigo, se preocupa, quer meu bem. Este é outro. O desejo é recíproco, conforme afirmei acima. Apesar das boas intenções, faço questão de cultivar seu ódio a mim. Toda a vez que vejo, é como se enfiassem uma adaga em meu coração. Será que eu quero que ela se sinta tão mal quanto eu? Será uma maneira doente de nos conceder liberdade da influência desequilibrada que ainda possuímos sobre nossas vidas? Será auto – punição da minha parte? Quando haverá paz? O tempo dirá? Com certeza.
O amor é uma faca de dois gumes, cujo sintoma é loucura. Quando o casal está junto e feliz, a esperança floresce. A felicidade torna o banal algo insignificante. Quando se separa, carência e inconformidade reinam, envenenando nossas almas. Fazemos perguntas que não têm respostas lógicas. Nos culpamos por não conseguir controlar o que está além de nosso alcance. De qualquer forma, é viver em realidades alternativas. Em ambas, não sabemos qual é o rumo e seguimos de acordo com o sentimento do agora. Somos loucos. Perdemos nossa capacidade de raciocínio. Somos animais, guiados pelo instinto primordial da sobrevivência.
Não pedirei mais compreensão ou desculpas. Abusei do primeiro e, falo por mim, sei que ela está cansada de escutá – las. Errar é humano, mas repetir é estupidez. Quanto a ela, precisa entender que, a cada escolha, um sacrifício é feito. O que nós dois temos que nos dar conta é que, para se ter uma nova vida, abandonamos o passado. Seja por vontade própria ou não, este se torna um ponto de referência para melhorarmos nosso futuro.
Tudo muda. Pode ser que volte diferente, mas, quase sempre, quando ocorre, é gradual. É uma das transições mais dolorosas para uma alma jovem. O fim de um amor é uma morte, mas não irremediável. Nós continuamos, apesar. É nossa chance de sermos felizes de novo, o que nos faz humanos. Devemos abraçar esta possibilidade com unhas e dentes. É uma das poucas chances que temos de derrotar o que surge como inevitável.
Talvez o que nos torne animais é que amor e ódio são extremos – irmãos. Abel e Caim. Como evitar que a tragédia se repita é nosso grande desafio e dever. Todo dia é um teste de paciência e humildade e, por isso, uma benção. Porque nos dá a oportunidade de sermos melhores. Mas como é difícil... Complexo... Queremos o bem, mas nem sempre agimos de acordo.
Diz a música que todos nós, em algum momento, aprendemos. É quando a lição é assimilada que não somos mais seres irracionais. Somos carne e osso e sofremos, sim. Viver é também uma experiência de dor. Ainda mais quando estamos descobrindo o que isso significa e suas implicações. Se deixar levar, é cavar sua cova mais cedo. Jogar sua negatividade para o outro, no entanto, é infeliz. E, como acima, não adianta fazer algo ruim e depois se arrepender. Você tem que viver aquilo que prega. Ser um hipócrita é ser um bicho domesticado.
Entre idas e voltas, me perdi. A gente se perde e, quando tudo dá certo, se acha. Se perde, se acha, se perde, se acha, a roda gira. Como diz Walmor Chagas na abertura do ótimo São Paulo S. A.: Recomeçar. Recomeçar de novo. Recomeçar mil vezes... Isso é o amor e isso é ser humano. Reconhecer é o primeiro passo. O mais importante, no entanto, é o segundo: recomeçar.