sábado, novembro 06, 2004

HOMER SIMPSON VOTOU EM BUSH

Desde que John Kerry admitiu sua derrota, muitos artigos foram escritos sobre como serão a reeleição de Bush. E aqui vai mais um! Muitas pessoas de boa- fé ficaram chocadas com a vitória do atual presidente dos EUA. A pergunta na cabeça de todas elas era: "Mas como? O cara é um babaca, um mentiroso, todo mundo sabe disso, até meu cachorro sabe e ele ainda ganha mais quatro anos? Que porra é essa?" ( Fazendo propaganda, como sempre, a Renata Ventura escreveu um ótimo texto que demonstra esse sentimento, na página Hipucomdríacos - www.hipucomdriacos.com.br ) Eu, por outro lado, não fiquei chocado, nem surpreso. Bush é um mau governante, mas temos vários chefes de Estado atuais condenáveis. Sílvio Berlusconi, o comandante da Itália, dono da maior rede de mídia do país e ultra- direitista é uma figura tão ou mais perigosa e desprezível que seu colega americano. A única diferença é que ele não tão falado por essa bandas( o que não deixa ser uma ironia por se tratar de um sujeito que usou e abusou dos meios que controlava para se eleger ). Ah, Berlusconi também apoiou a guerra ao Iraque. Ou seja, mesmo que Kerry ganhasse, ainda teríamos uma figura como essa. E não me venham com esse papo de "Itália não é EUA", porque, enquanto as populações de qualquer paiseco elegerem esses vilões de 007 para presidência, o mundo nunca estará seguro. A democracia jamais será plena, enquanto permitirmos que grupos manipulem em nome de seus interesses comercias, especialmente quando se trata de político. Por esses motivos, não fiquei chocado.
Não fiquei surpreso, porque não achei que a reeleição de Bush contradizesse o pensamento do povo americano. Ao contrário das eleições anteriores, não acho que houve má- fé agora. Os americanos foram em massa votar e eles, principalmente eles, optaram por renovar o mandato de Bush. Enquanto isso, o resto do mundo agia como um cara que levou um fora da namorada: muito choro e muita suposição, nenhuma análise mais fria dos acontecimentos. Como falei, já esperava por isso, o que me deu tempo de pensar a respeito. Então, o que soou mais lógico foi tentar encontrar o problema pela raiz. A pergunta a ser feita não é o que o povo americano quer, mas quem é o povo americano? Até o momento, não achei uma resposta definitiva. Mas, esbarrei em algo interessante. Outro dia, vi um episódio antiqüíssimo dos Simpsons. Nele, Homer é acusado erroneamente de abusar sexualmente de uma estudante e tem sua vida virada de cabeça para a baixo com a cobertura incessante da mídia. Ao final do episódio, com a inocência provada, Homer abraça e beija a TV, dizendo: "Não vamos brigar mais." Não sei se é claro para todos, mas Homer é a caricatura máxima do típico americano de classe média- baixa. Não tem muita instrução, trabalha num emprego horrível, bebe sem parar e é um marido relapso e um pai ausente. É uma figura triste, que só encontra redenção no amor genuíno que sente por sua família. Sendo mais frio, o amor de Homer é fruto do fato dos Simpsons ser um desenho feito para a família, mesmo tratando de assuntos adultos e passar num canal aberto. Já "South Park", outro desenho com o mesmo teor crítico, mas para o público adulto e de um canal por assinatura, tudo é muito mais ácido e nonsense. Logo, não há salvação. Todos, homens e crianças, são ignorantes e desagradáveis. A diferença entre as faixas etárias é que, enquanto os mais velhos são estúpidos, as crianças são interesseiros e manipuladoras. Assim como a Springfield natal da família amarela, South Park é uma cidade cujos habitantes simbolizariam os moradores menos privilegiados e que compõem a maioria dos EUA. Devido a ignorância que atravessa geraões, são pessoas ligadas a tradições e de mentalidade fechada. Os eleitores de Bush. Afinal, como explicar ele ter ganhado em Ohio, um dos estados mais afetados pelo desemprego? Bush passa a imagem que o americano médio idolatra: um chefe de família, com princípios conservadores sólidos e um líder que não volta atrás. Tudo pelo bem dos EUA. Ao contrário de toda a pompa liberal e intelectual de um Kerry da vida, Bush passa uma imagem de simplicidade, mesmo vindo de uma das mais poderosas famílias dos EUA. Poderia ser um colega de bar ou um vizinho amigo que organiza um churrasco. Ele fala para o povo americanos, fala de coisas que eles entendem e aprovam de uma maneira que eles entendem e aprovam. O que Kerry tentou conquistar com Leonardo DiCaprio e cia e o apoio dos principais meios de mídia americanos foi algo que, apenas no final, deixou mostrar: o lado humano. Como confiar que você resolverá o problema do desemprego, algo importante para essas pessoas, se você não demonstra ter princípios sólidos? Qual o sentido em tirar as tropas do Iraque, se insiste em não romancear a guerra, como fazem os pastores com o Novo Testamento? Resumidamente, como esperar a simpatia do povo americano, se você se concentra no cérebro, e não no coração? Sua fala liberal pode seduzir as elites intelectuais ou os grupos excluídos, mas o pessoal de Springfield não conhece, não quer conhecer e tem raiva desse povo. Kerry percebeu esse erro no final da campanha, quando, talvez fosse tarde demais para mudar os eventos seguintes.

1 Comments:

Blogger Jubsky said...

Boas idéias que você têm, heim, rapaz? Bom saber que nem todos os da nossa geração ainda não sabem que pensar é bom (sim!). Obrigada pela indicação do meu blog e pelos comentários.
Vou começar a passar por aqui regularmente.
Beijo
Julia (sem acento)

8:57 PM  

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