sábado, outubro 07, 2006

SOBRE O DESEMPREGO

Pois é, a esperança de Geraldo Alckmin venceu o medo tucano e haverá segundo turno. Um dos temas que deverão ser abordados, de uma forma ou outra, será o desemprego entre jovens. Alckmin alega que o mercado não tem espaço para a mão de obra disponível, enquanto Lula afirmará que criou mais empregos que qualquer governo antes dele.
Pessoalmente, minha situação se encaixa mais na realidade do candidato do PSDB do que a do petista. Este mês, celebro um ano ausente do mercado de trabalho. Prestes a me formar, a possibilidade de lavar pratos ou começar uma carreira de balconista me assusta. Nada contra essas profissões. São tão nobres quanto a de qualquer jornalista, mas a questão é irremediável a sensação de fracasso após tanto tempo, dinheiro e esforço físico numa formação acadêmica para acabar num emprego em que só necessário ter segundo grau, às vezes. É orgulho, eu sei, mas é um sentimento que não consigo contornar.
Os primeiros meses desempregado parecem férias. Finalmente, um tempo para nós mesmos, pensamos. Encaramos como um período de descanso até o retorno ao batente. O bicho começa a pegar quando o tempo passa além do desejado. Algo está errado... Claro que a pessoa pode nem estar tentando, mas quando este não é o caso... Mas, ainda assim, não é tão grave. Dá para contornar... e os meses se passam... passam... O sinal vermelho acende na sua cabeça e um alarme estridente toca em seu coração. Nada causa mais horror na mente do estudante universitário do que a seguinte constatação: A formatura está aí, mas o estágio não está nem aí. Nesse momento, o estágio ganha dimensões de uma Pasárgada. Quero ir para Pasárgada, onde sou estagiário do rei. Lá tenho salário e mais uma experiência para meu currículo. Desculpe a falta de ritmo, mas acho que deu para sentir o drama, não?
Não há nada que sabote mais o esforçado ex- preguiçoso que caiu em si do que seu currículo vazio. É como uma casa mal assombrada: é vazio, é evitado por todos ( os empregadores ) e amaldiçoa seu dono permanentemente. A única forma de exorcizar esse encosto é voltando a ser uma força produtiva. Mas, como, vocês se perguntam, se ninguém tem interesse num candidato que trabalhou pela última vez há um ano?... É um círculo viciouso ( mistura de vicioso com a palavra inglesa vicious; que é, em bom português, cruel. )
Assim como Alckmin reverteu as expectativas e obteve seu sonhado segundo turno, também acredito na realização de minha utopia pessoal. Numa sinuca de bico como essa, tudo o que resta é domar o desespero. Além do mais, ninguém mais agüenta alguém reclamando da falta de sorte. Minha namorada já está quase pedindo demissão de cargo. Não do emprego real, mas o opcional, que é ficar comigo. Até o momento, sempre segurei a onda dela. Qualquer coisa, sempre posso abrir um consultório sentimental.

2 Comments:

Blogger Pedro Simão said...

Ribas,
Espero que tenha te ajudado a resolver o problema.
Mas tenha certeza que uma pessoa de sua estatura intelectual (e não a física) nunca ficará por muito tempo desempregado.

Um Abraço

10:17 PM  
Anonymous Anônimo said...

"a sensação de fracasso após tanto tempo, dinheiro e esforço físico numa formação acadêmica para acabar num emprego em que só necessário ter segundo grau, às vezes."
Meu caro desconhecido, a despeito de nossas visões políticas divergentes, talvez nesse momento de fraqueza pelo qual muitos de nós passamos seja conveniente refletir sobre a existência efetiva de justiça na meritocracia. Muitas vezes a conquista de uma boa formação acadêmica não constitui reflexo direto dos esforços pessoais. Por vezes aqueles que ocupam lugares menos privilegiados economicamente na divisão do trabalho ao longo de suas vidas foram obrigados a grandes esforços individuais decorrentes da situação de carência observável em nosso país. Weber há muito disse que aquele dotado status social privilegiado vive angustiado, pois não vê justificativa racional capaz de explicar o porque da desigualdade em relação aos demais da sociedade, aí surge a falácia do mérito. É uma leitura bastante interessante acerca da gênese da meritocracia no regime burguês e parece se aplicar ao seu caso. O manobrista, o pedreiro, o porteiro que muitas vezes não ganha um olhar nos olhos dos moradores do prédio em que trabalho talvez seja um injustiçado pelo frágil sistema imposto pela meritocracia. A falta de empregos não é decorrência, a meu ver, de falhas na implementação da meritocracia num país periférico, mas sim tem existência estrutural. Num país como o Brasil, muitos não vão estudar e cabe a você aproveitar essa chance que por (em grande parte) sorte você teve em algo a ser fruído pelo seu povo. Talvez o desemprego que te alija do mercado de trabalho seja uma oportunidade para o surgimento de algo novo e de uma ruptura na reprodução de modelos meritocráticos liberais.
Um abraço.

10:43 PM  

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