sexta-feira, abril 04, 2008

CLUBE DA LEITURA 4

VOMITANDO LITERATURA
Sai da livraria. Estou cansado. Hoje teve evento na loja. Isso para mim quer dizer ficar até meia-noite para só chegar em casa às duas. Não me incomodo em dormir pouco. Só não gosto da idéia de trabalhar até tarde.
Também não gosto dos babacas que vão. Um monte de filhinho de papai querendo ser passar por revolucionário apenas porque usa chinelo de dedo e parece que não tomam banho há três dias. Quanto tem evento, geral aparece e trazem os colegas. Já vi menos show de horrores em programa de domingo à tarde.
Hoje, foi pior. Este é o quinto buraco do inferno. O maluco mudo tentou dizer um poema: “Hã. Hã. Hã... Hã!”. Acho que ele tentou dizer “Batatinha quando nasce”. Quero esparramar sua cara no chão.
Não escrevo bem, entrei nessa para não perder um dinheiro que sei não vão me dar de volta. Digo o que me vêm à cabeça, neste momento de intoxicação terrena, inspiratória, mental e nasalmente.
Não entendo poema. Detesto vanguarda. Desculpa para fazer merda e dizer que é cheiroso. “Favelost”. Que porra é essa? Será que foi uma palavra que surgiu quando ele se engasgou com um sanduíche do Cervantes? Eu consigo ver o poetas de recital, orgulhosos de sua reputação e falta de noção, entre barofadas de um bom charuto jamaicano, gritando: “Gênio!” A culpa burguesa produziu revoluções sociais, fortaleceu religióes e ditou destinos políticos de Estados. Hoje, compra e vende produção artística. Produção artística. Arte, isso não existe mais. Roubaram o último exemplar na semana passada do Museu do Esquecimento.
Agora, entrei na onda. Agora, sou moderno. Agora, vou ser famoso. Agora, vou ser admirado. Agora, vou ser chupado. Agora, vai ter uma estudante de cinema quer fazer meu documentário. Agora, eu tou cheirado, bebendo pra caralho, todo o álcool que aparece na minha frente. Nasce o artista. Agora, me tira dessa porra de limbo e me leve para as estrelas.
Vejo sangue. É meu, mas não parece.
Como uma mulher. Obrigo ela a gritar “Favelost” durante a transa toda. Meto com mais força, só pra ele gritar com mais afinco: “Favelost”. Texto tem que ter sexo e palavrão. É isso que o público quer. As pessoas deviam fazer mais sexo para, assim, não ter que falar tanto dele.
Isso é um improviso ou desabafo? Isto é um texto ou um vômito? Isso é oportunismo ou criação em estado caótico? Isto é Fausto Fawcett ou Farrah Fawcett? Isto é motivo de orgulho ou vergonha? Isto é um questionamento ou encheção de lingüiça?
Tudo o que sei é queria ser um doce transexual da Transilvânia.
Não escrevo há tanto tempo. Essas coisas são mais prática que outra. A única maneira de manter em forma é se exercitando. Vejo meu texto como uma representação literária do meu estado físico: pequeno, com gorduras sobrando e semi – destruído internalmente. O que me sustenta e ao texto é o cabelo.
Alguns gritam: “Favelost é deus!” Discordo: “Que nada! Fave – Arquivo X é muito melhor!” E, para aqueles que se lembram, Fave- Twin Peaks é que deu origem a tudo isso.
Os dez reais melhores gastos na minha vida!

DANIEL RUSSELL RIBAS