sábado, julho 16, 2005

SÓCRATES TALVEZ ESTIVESSE CERTO

Temos poucas certezas na minha vida. O pior de tudo é nenhuma delas é absoluta, cortesia dessa faca de dois gumes que chamamos "interpretação". Nem mesmo candidatas fortes como as fatais ( "A morte é inevitável" ) ou infames ( "Á única certeza é que nada é certo." ) conseguem resistir a uma argumentação bem pensada ou a simples teimosia de um dos lados. Você pode convencer alguém a sentir fome se for um hipnotizador. A meu ver, é a pessoa que determina para si o que pode considerar como certo. Isso, claro, descartando o hipnotizador. Vou dar um exemplo: meus amigos acham que demoro muito a entrar no assunto, que enrolo ao invés de falar logo o que quero. Eu discordo. Construo uma elaborada introdução, uma "ambientação intelectual", se preferir. Dessa forma, meu interlocutor poderá entender de onde veio minha idéia, quais os elementos que guiaram até chegar ao principal, o motivo pelo qual começamos a conversa, o que pretendo transmitir e, com sorte, provar que é válido. Ou seja, não apenas valorizando, como auxiliando minha argumentação quando estiver defendendo meu ponto de vista. É como quando você aborda alguém por quem você sente atraído. Imagine o que aconteceria se você chegasse com uma frase de efeito como: "Aí, tenho camisinha. Tá a fim?" É óbvio que vai dar errado. Você começa puxando papo, procurando elementos em comum e outros que podem ser usados para causar uma impressão atraente no seu objeto de desejo. E se você não é o Tom Cruise, que diz "Oi" e consegue até vaga para estacionar, isso é muito importante. Para alguns, todo esse jogo é desperdício de tempo, mas para outros, não só indispensável como prazeroso. "Jogo de sedução", como chamam. Que também podem ser chamados de "preliminares verbais", mas essa é outra história. Sei que fui prolixo agora, mas quis registrar esse pensamento. O problema em montrar uma boa introdução a argumentação é justamente a facilidade em perder o foco. Esse é um perigo constante, que te persegue principalmente durante a argumentação em si até a conclusão. Pior é quando a pessoa nem percebe que está se alongando além do necessário. Uma boa introdução deve apontar os pontos de vistas que levaram a idéia principal, a razão da argumentação. Quanto mais divergentes forem, melhor. Desde, claro que tenham elementos em comum que possam ser costurados no tópico da discussão. Caso você resolva elaborar outros pontos ligados às fontes de sua idéia, você pode estar entrando num mato sem cachorro. Isso tudo é importantíssimo na hora de convencer o outro a compreender e aderir a sua idéia principal. Em outras palavras, a sua certeza pessoal. Tornar sua certeza pública, de modo que ela deixe de ser algo puramente individual, como uma alucinação, para um delírio em massa, é o melhor modo para fazer sua idéia prevalecer. Nossa História é cheia de exemplos de que isso funciona. Quanto mais pessoas convencemos, menos sozinhos nos sentimos. Menos sozinhos, mais apoio temos. Quanto mais apoio e certeza temos, mais completos nos sentimos. E menos medo temos por não termos certeza de nada.